Metalinguagem da transformação

Crítica Teatral


*Por Geovane Barone


A Cia. São Jorge de Variedades apresentou na sede da Cia. dos Atores no RJ, integrando a programação doFestival Tempo de teatro contemporâneo, que está acontecendo em diversos espaços culturais do Rio de Janeiro , o espetáculo "Quem Não Sabe Mais Quem é O Que é e Onde Está, Precisa se Mexer", baseado na Obra de Heiner Muller.Com direção da premiada diretora e nova expoente do teatro contemporâneo, Georgette Fadel, a peça traz um reflexão da forma de se fazer teatro na atualidade e também sobre o conteúdo de nossos tempos, representado pela informação,tecnologia e consumismo da geração da queda do Muro de Berlim, frustrada com a revolução.

A companhia conta na sinopse da peça que foi a partir dos estudos do dramaturgo Heiner Muller que surgiu o interesse em explorar o teatro de rua e outras formas de se fazer teatro como uma arma contra a domesticação da arte cênica. É justamente essa vontade de modificar, transformar as estruturas cênicas, que conduz a estética do espetáculo: fragmentação de textos e imagens, não-realismo, mistura de linguagens artísticas.

A encenação começa no espaço público, fazendo uma volta pela rua da Lapa, com o público seguindo os passos de Mariana G., que em uma esquina revela sua crise : " Não sou Hamlet, não represento mais nenhum papel. Minhas palavras já não me dizem mais nada. Os meus pensamentos sugam o sangue das imagens. O meu drama não se realiza mais." Pregando pequenos cartazes caseiros, pedindo ajuda aos transeuntes para segurar os pedaços de fita crepe que segurarão os cartazes por algum tempo nas paredes escolhidas:"Sou meu prisioneiro".Pendurado em no poste um dos atores da companhia segura uma faixa que contém frases do espetáculo. Uma dos aforismos expostos é "Aquele que não se mexe, não sente as grades que o aprisionam.", de Rosa Luxemburgo.

Em seguida, o público é conduzido a sede da Cia. dos Atores, onde se depara com uma “gaiola-apartamento” cheia de bugigangas e instrumentos. A direção de arte de Rogério Tarifa faz com que imaginemos um palco cheio de possibilidades, criado com recursos da art pop, da bricolagem. Placas, geladeira com cartazes e fotos de personalidades, cabide de livros, bateria, relógio bacia de alumínio para o samba que virá, jardim, roupas e papéis higiênicos como paredes. A TV colocada em cima da gaiola para o público vê ao vivo nos intervalos dos atos. Cenário dinâmico. A forma que revela o conteúdo.

Os atores muito bem dirigidos por Georgedette Fadel, dão um tom de uma interpretação irônica,brechtiniana, anti-realista. Marcelo Reis, Mariana Senne e Patrícia Gifford parecem falar de si mesmos,parecem dar os seus testemunhos críticos do mundo; se representam personagens parecem apenas contar histórias.Destaque para a interpretação de Mariana Senne que consegui durante o espetáculo oscilar entre personagens pesados e leves, sentimentos dramáticos e cômicos. O gesto, o corpo, a voz, a emoção revelam valores contraditórios de desilusão e esperança, da revolta e resignação. Os objetos viram instrumentos, os instrumentos viram objetos. Os atores parecem propor também um happening. O Público é indagado e recebe livros dos atores.

A direção musical de Luiz Gayotto dá o tom irônico e sutil do espetáculo. Destaque para o teclado colocado no fundo do palco que serve como campainha para entrada de personagens e também as intervenções musicais do trio de atores. O figurino de Foquinha é fragmentado, irônico e despojado seguindo a linha do espetáculo.

A direção de Georgedette Fadel é magistral. Ela coordena os elementos cênicos recortados, contraditórios. Mistura beleza e caos com harmonia entre teatro, artes visuais,dança , audiovisual e música. Imprimi um ritmo de cena ágil e enfático.


Ao final do espetáculo, o público é levado em cortejo pra rua com uma cantoria e acaba num bar juntamente com os atores.

"Quem Não Sabe Mais Quem é O Que é e Onde Está, Precisa se Mexer", desnuda a maquinaria do teatro, questiona a sua função, questiona os valores vigentes, radicaliza as emoções. É político sem ser panfletário. É artístico sem ser apenas forma. Um bom exemplo do teatro paulista para a cena teatral carioca. O espetáculo é a transformação cênica que fala sobre a transformação e indaga a possibilidade de mudança.Uma ótima referência para um bom teatro livre e contemporâneo.


Espetáculo Quem Nao Sabe Mais Quem é , O Que é e Onde Esta, Precisa se Mexer, Cia. São Jorge de Variedades. from Carla Estefan on Vimeo.





Para saber mais sobre a Cia. São Jorge de Variedades acesse o sitehttp://www.ciasaojorge.com.br/index.html

*Geovane Barone é ator, produtor cultural, Coordenador Geral do CUCA da UNE/RJ e estudante de filosofia.

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Teatro do Oprimido ocupa a Lapa

Arena dos Arcos da Lapa recebe nos dias 28 e 29 de maio, de 15h às 20h, uma programação de teatro, performances, shows musicais e intervenções estéticas, com entrada franca



O Centro de Teatro do Oprimido realiza nos dias 28 de maio de 2010 (sexta-feira), de 15h às 20h, na Arena dos Arcos da Lapa, a mostra “Madalena Ocupa a Lapa”, com espetáculos e performances, dirigidos pela italiana Alessandra Vannucci – Prêmio Shell 2006 de Melhor Espetáculo por “A Descoberta das Américas” –, e elenco compostoexclusivamente por mulheres que buscam percursos de expressões estéticas e narrativas a partir do corpo feminino, e no dia 29 (sábado) a mostra “Curumim Ocupa a Lapa”, com peças interpretadas exclusivamente por crianças e adolescentes, cujos temas tem relação com o ECA – Estatuto dos direitos da criança e do adolescente.


Nestes dias serão apresentados ao público uma mostra estética e teatral das atividades artísticas e cidadãs que a equipe de curingas do CTO vem realizando desde 2008, em dezoito estados brasileiros mais quatro países da África (Moçambique, Guiné Bissau, Angola e Senegal), com o Projeto Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto. Na ocasião acontecem as mesas de debates “Corpo feminino como território do sagrado e do poder, da ancestralidade ao século XXI” e “Estatuto da criança e do adolescente”. O evento tem classificação é livre e entrada é franca.


Na noite de 27 de maio (quinta-feira), às 19h, na casa do Centro de Teatro do Oprimido, acontece o coquetel de lançado o documentário “Metaxis – Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto”, que apresenta um panorama das atividades do CTO, entre 2008 e 2010, em cidades do Brasil mais Moçambique, Guiné Bissau, Angola e Senegal.


O evento público é patrocinado pelo Ministério da Cultura, por intermédio do Programa Cultura Viva, com promoção da TV Globo “Teatro a gente vê por aqui”, apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Prefeitura do Rio de Janeiro.


O público vai trocar de lugar com os protagonistas

As pessoas que acompanharem os dois dias de mostras teatrais vão ter a oportunidade de subir no palco e mudar o final da história. Nas peças de Teatro-Fórum (técnica do Teatro do Oprimido), após cada apresentação, os espectadores são convidados a trocar de lugar com o protagonista para sugerir alternativas ao problema encenado. O espectador (ou espect-ator) da sessão de Teatro-Fórum não é um consumidor do bem cultural, mas sim um ativo interlocutor que é convidado a assumir o papel do oprimido ou de seus aliados para interagir na ação dramática de maneira a apresentar alternativas para transformar a realidade – ser ator de sua própria vida.


Sobre “MADALENA”


Projeto Madalena - CTO



Contemplado com o Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura e realizado no Brasil e na África pelo Centro de Teatro do Oprimido, o “Laboratório Madalena” é uma iniciativa da diretora italiana Alessandra Vannucci e integra a sua residência artística no Projeto Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto. O projeto realizou cinco laboratórios teatrais gratuitos, três no Brasil e dois na África (Moçambique e Guiné Bissau), cada um produzindo peças estéticas e espetáculos de Teatro-Fórum e/ou performances, que estão circulando localmente.


A experiência cênica “Laboratório Madalena, teatro das oprimidas” – exclusiva para mulheres empenhadas em investigar as especificidades das opressões enfrentadas por elas e em atuar para a criação de medidas efetivas que contribuam para a superação dessas opressões e para a igualdade dos gêneros – busca percursos de expressões estéticas e narrativas a partir do corpo feminino.


Sobre “CURUMIM”

Ao se buscar discutir a atuação do Teatro do Oprimido na educação e nos direitos da criança e do adolescente, demonstra-se que o uso da linguagem teatral pode possibilitar múltiplas experiências, que potencializam a criatividade, a autonomia e, por que não o desbloqueio do corpo e de seus sentidos, nas crianças e nos adolescentes. Além do mais, o Teatro do Oprimido é uma prática de arte politizadora que abre espaço para a manifestação expressiva dos participantes, pois tendo como uma de suas prioridades a não priorização em formar atores profissionais, mas, sim, protagonistas sociais, cidadãos mais conscientes de seus direitos e deveres, da sua dignidade e com auto-estima elevada e fortalecida. Neste sentido, acredita-se que seu caráter popular e participativo possa propiciar um procedimento educacional relevante, proporcionando aos educandos o contato com a arte do teatro por meio de uma proposta pedagógica que conjuga teoria, prática e expressão artística.

Fonte: http://www.ctorio.org.br

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Documentário sobre comunicação e política

EVENTO

Fonte: Portal da UERJ


Confira o triller do doc





No dia 27 de maio, quinta-feira, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro exibirá o documentário "Arquitetos do Poder" no Teatro Noel Rosa, localizado em seu Centro Cultural. O evento acontece às 19h e possui entrada gratuita. Após a mostra, haverá um debate com Alessandra Aldé, professora da Faculdade de Comunicação Social da UERJ, e Vicente Ferraz, diretores da obra.




O filme se propõe a traçar um panorama das relações entre mídia e poder no país. Resgatando registros, em depoimentos e imagens, desde a campanha de Getúlio Vargas e JK até o presente, observa-se a crescente influência da comunicação na política e o tratamento dado pela imprensa nacional aos escândalos. Do marketing em preto e branco das décadas de 50 e 60 ao ápice da profissionalização da comunicação política nos anos 2000, é possível notar um longo caminho percorrido nas campanhas política brasileiras.




A exibição faz parte do projeto UERJ em Casa, idealizado pela Divisão de Teatro do Departamento Cultural da Universidade. Seu intuito é oferecer a oportunidade de que trabalhos artísticos desenvolvidos por membros da comunidade interna da Universidade sejam expostos em seus espaços culturais. Informações sobre como participar podem ser encontradas no sitewww.decult.uerj.br.




UERJ/SR-3/DECULT apresenta
UERJ em Casa
Documentário Arquitetos do Poder
Direção
: Vicente Ferraz e Alessandra Aldé
Local: Teatro Noel Rosa/Centro Cultural da UERJ
Rua São Francisco Xavier, 524 - Maracanã
Tel.: (21) 2334-0048
Data: 27 de maio de 2010, quinta-feira
Horário: 19h
ENTRADA FRANCA


Da redação.

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Festival de Esquetes Universitário da PUC-RJ começa nesta quinta


O I Festival de Esquetes Universitário vem para valorizar o trabalho de jovens atores e diretores do meio teatral através de um grande evento de interação.


Universitários de todo o Estado do Rio de Janeiro poderão se inscrever, e nessa primeira edição queremos levar muita alegria e diversão para o público e para quem está participando.


O Festival acontecerá no ginásio da PUC RJ que comporta 1500 lugares nos dias 20 e 21 de maio a partir da 19:00h. A entrada é franca. 


A premiação do festival será de R$200,00 para melhor esquete e bolsas de estudo em diversas escolas de teatro como Tablado, Casa de Cultura Laura Alvim para melhor ator e melhor atriz.


Para maiores informações, consultar o site do Festival http://www.festivaldeesquetes.com.br


Da redação.

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Senado aprova projeto de reconstrução da sede da UNE e da Ubes

Fonte: Portal Vermelho: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=129656&id_secao=8


Acaba de ser aprovado o projeto de lei que garante a indenização da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) pelo incêndio da sede das entidades ocorrida durante o regime militar. O Estado pagará com a reconstrução da sede no histórico endereço da Praia do Flamengo, 132, com projeto doado por Oscar Niemeyer.

Arquivo UNE
 
Em 10 de maio de 2007 o arquiteto Oscar Niemeyer entregou o projeto da sede às entidades estudantis
O projeto (PLC 19/10) tramitava em caráter terminativo e foi aprovado nesta quarta-feira (19/5), por volta de 13h30, por unanimidade, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Como já havia passado pela Câmara, o projeto segue agora para sanção presidencial.

O texto aprovado reconhece a responsabilidade do Estado brasileiro pelo incêndio da sede das entidades estudantis durante o regime militar e cria uma comissão de representantes do governo destinada a fixar o valor e a forma de indenização que o Estado deverá pagar. O valor da indenização a ser apurado por esse grupo de trabalho não poderá ultrapassar o limite de seis vezes o valor de mercado do terreno localizado na praia do Flamengo.

Para o presidente da UNE, Augusto Chagas, o trâmite do projeto no Congresso Nacional demonstra a importância do tema para a democracia do país. "O PL foi relatado por parlamentares de todos os grandes partidos, foi aprovado por unanimidade por todos os partidos, em todas as comissões". Augusto ressalta, entretanto, que ainda há muito trabalho a ser feito "até que o primeiro trator entre no terreno".

Marca da campanha das entidades pela retomada do terreno e construção da sede
Luta de uma geração

"É resultado da luta de toda uma geração", constatou Yann Evanovich, presidente da UBES.

A sede abrigará também as entidades criadas após o incêndio, como a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e o Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca).

A presidente da ANPG, Elisangela Lizardo, comemorou a vitória reivindicando a sanção presidencial: "Esta vitória representa um reconhecimento de toda a contribuição do movimento estudantil à democracia brasileira. Agora aguardamos ansiosos a sanção presidencial para batalhar a construção do projeto que nos foi presenteado pelo arquiteto Oscar Niemeyer".

Há dois anos, o presidente Lula visitou o terreno na Praia do Flamengo, 132, e prometeu garantir a reconstrução da sede das entidades no Rio de Janeiro, que foi metralhada, depredada e incendiada no primeiro dia do golpe militar de 64. Os escombros ficaram sob responsabilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, quando líderes estudantis começaram a se mobilizar para retomá-lo, o que ainda restava foi demolido em 1980, no governo João Figueiredo.

Nova sede
O projeto de reconstrução foi presenteado aos estudantes pelo arquiteto Oscar Niemeyer em 2007. As pranchetas do velho comunista prevêem um centro cultural, uma biblioteca, um auditório e um museu, um restaurante, dois teatros e um prédio de 13 andares.

Do prédio situado na praia do Flamengo, estudantes brasileiros conduziram lutas contra o Estado Novo, em defesa do petróleo e por uma escola pública de qualidade. Ali o presidente João Goulart foi, com todo o seu ministério, agradecer a participação dos estudantes na campanha da legalidade que lhe garantiu assumir a Presidência da República depois da renúncia de Janio Quadros.

A sede dos estudantes foi o centro político nevrálgico do Rio de Janeiro e do Brasil nos conturbados anos 60, de acordo com o testemunho do ex-deputado Aldo Arantes, que presidiu a entidade. Arantes diz que o prédio era conhecido à época como a "Casa da Resistência Democrática".

De São Paulo, Luana Bonone, com Estudantenet.

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Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e Ministério da Cultura lançam Edital Cine Mais Cultura




A Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (através da Superintendência de Audiovisual), em convênio com o Ministério da Cultura, lançou, no dia 29 de abril, o edital do projeto Cine Mais Cultura.

O Edital Cine Mais Cultura é uma das ações que compõem o Programa Mais Cultura, do Governo Federal, e prevê a criação de espaços alternativos de exibição de produções cinematográficas, visando a difusão do setor audiovisual, com ênfase na produção nacional, para ampliar e promover o desenvolvimento da cultura nacional entre a população. A Sociedade Amigos da Cinemateca, por meio de parceria firmada com o MinC, será a executora do projeto.

O Edital é destinado às pessoas jurídicas e instituições não governamentais sem fins lucrativos, tais como: bibliotecas comunitárias, pontos de cultura, associações de moradores. O Edital fomentará a criação de 51 novos cines e os selecionados vão receber equipamentos de exibição e programação fornecida pela Programadora Brasil. Todos os contemplados passarão por oficinas de capacitação para operar esses cines.

Graças ao Cine Mais Cultura, 401 cines foram implantados nas 27 Unidades da Federação do Brasil, sendo 111 em capitais e 290 no interior do país.

O Estado do Rio de Janeiro bateu o recorde nacional de inscrições na Edição 2008/2009 do Cine Mais Cultura, com 71 proponentes. Diante de tão grande procura, para esta edição a SEC colocará à disposição dos proponentes seu Escritório de Apoio à Produção Audiovisual, localizado na própria Secretaria, na Rua da Ajuda, 5/ 13º andar.

As inscrições podem ser feitas no site da SEC - www.sec.rj.gov.br - até 14 de junho.

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Audiência sobre o Procultura com Juca Ferreira no RJ

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Viagem ao sertão

Marcelo Gomes e Karim Aïnouz fazem Road Movie nordestino

                                          Foto Divulgação

Fonte: http://www.cultura.rj.gov.br/materias/viagem-ao-sertao

O filme Viajo porque preciso, volto porque te amo, que estreia esta semana no Rio de Janeiro, é marcado por várias buscas. Se o sertão busca por água, o personagem principal José Renato busca o sertão. E os premiados diretores Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, dois expressivos expoentes da nova safra do cinema nordestino, buscam claramente suas origens. Marcelo e Karim se aproveitam do interesse em revelar as histórias que ouviram de seus antepassados para mostrar ao restante do país o agreste nordestino e, ao mesmo tempo, dar vida ao geólogo de 35 anos.

Irandhir Santos interpreta José Renato, que não aparece em cena, mas conduz o público a uma viagem na região semidesértica do Nordeste. José é enviado para uma pesquisa de campo, onde deve avaliar o percurso de um canal que levará água para regiões mais áridas. A construção significa água para alguns e remoção para outros. Famílias serão removidas, áreas serão submersas e é nesse clima que se desenvolve a jornada de José.

O abandono da região faz um paralelo com o do personagem, já que o vazio demonstrado pelo geógrafo logo se descortina, ao revelar que José Renato foi abandonado pela mulher, Joana. Solidão, saudade e desamparo o acompanham em sua jornada, transformando a vida e apresentando ao público uma nova paisagem. Um diário de bordo, onde são percebidas as reações do personagem durante sua travessia, é a consequência deste processo.

O geólogo, para suprir o vazio deixado pela mulher amada, acaba absorvendo com mais intensidade as sensações que emanam dos detalhes ao seu redor. A narrativa em primeira pessoa revela as preocupações, os medos e as descobertas do personagem. A estética de homem abandonado é ressaltada por canções de amor e pela marca do brega nordestino, que dá a noção de “dor de cotovelo” ao longa. O brega também esta associado ao título do filme, que foi retirado de um bar a margem da estrada.

Para os diretores Karim e Marcelo, retratar o sertão é falar do passado de seus avôs, e por isso utilizam o personagem para apresentar uma região que, ao mesmo tempo, causa estranheza e encantamento. Em sua jornada, o geólogo vai recolhendo imagens que são apresentadas em diversos formatos, como polaroids, super 8 e DVcam, mesclando o novo com o antigo e trazendo o filme para perto do espectador, transformando essa experiência em algo mais pessoal. Segundo os diretores, ao colocar um homem comum como personagem principal, fazendo a travessia por uma região inóspita, o filme leva o público a sentir o abandono vivido por José Renato.

“Queríamos fazer um filme à flor da pele. José Renato não é um grande escritor, nem um grande retirante ou um grande vaqueiro, nem um grande herói, e sim um homem comum - um colecionador de impressões” - ressalta o diretor Marcelo Gomes.

Parceria antiga

Os diretores começaram a trabalhar juntos em 1996, época de seus primeiros longas. A afinidade na parceria é creditada ao gosto comum pelo cinema e pela vontade de descortinar novos caminhos. Na busca por locações e durante a produção de seus filmes anteriores, ambos os diretores já haviam pesquisado a região. O material utilizado para a realização de filmes como Cinema, Aspirinas e Urubus e Céu de Suely serviu como base para a realização de Viajo porque preciso, volto porque te amo.

Karim Aïnouz descreve o processo de parceria:

“É um trabalho que se dá através do diálogo, da troca, de uma alegria. O bacana é que somos bem diferentes. Trabalho muito com o confronto; Marcelo trabalha de uma maneira mais doce. E, apesar das diferenças, temos curiosidades em comum. É essa curiosidade quase febril que nos ajuda a olhar para as coisas, para o mundo, para questões que nos inquietam.”

Marcelo Gomes, recifense, teve seu primeiro longa Cinemas, Aspirinas e Urubus reconhecido ao redor do mundo. O filme estreou no Festival de Cannes em 2005 e saiu com o France´s Award do Ministério da Educação, um entre os mais de 50 prêmios que a obra recebeu pelo mundo. Atualmente trabalha em seu novo projeto Era uma vez Verônica. Karim Aïnouz já dirigiu os longas Madame Satã e Céu de Suely, ambos premiados no exterior, e tem como novo trabalho o filme Praia do futuro.

Viajo porque preciso, volto porque te amo já foi exibido em festivais de Veneza, Havana, Portugal, EUA e França. Neste último ganhou o Grand Prix Coup de Coeur do 22º Rencontres Cinémas D’Amerique Latine de Toulouse.

Colaboração de Gustavo Durán

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Orquestra Voadora e doações em Niterói



Fonte:www.tropicaline.blogspot.com/2010/05/orquestra-voadora-e-doaçoes-em-niteroi.html

A praça da Cantareira, tradicional ponto de encontro de jovens e universitários de Niterói, contou nesta última quinta-feira (6) com uma presença especial: os jovens cariocas da Orquestra Voadora se apresentaram pela primeira vez na cidade, recebendo doações para os desabrigados pela chuva.

Este foi o segundo evento organizado pelo coletivo Rio Unido, um grupo de artistas e produtores culturais voluntários que se articularam pela internet a fim de realizar eventos para arrecadar doações em função das chuvas no Estado.
Com um público em torno de 400 pessoas, a atividade contou também com o apoio do DCE Fernando Santa Cruz e o Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) da UFF.

As roupas, alimentos e material de higiene recebidos foram entregues ao Comitê de Mobilização das Favelas de Niterói, organização dos próprios moradores atingidos pelas chuvas e voluntários, que tem se encarregado da arrecadação e distribuição dos donativos.



Para quem não deu ainda sua contribuição, ainda é tempo: o Sindicato de Trabalhadores da UFF, que fica dentro do campus do Valonguinho é um dos pontos oficiais de recebimento e organização de doações.


O próximo evento Rio Unido será na segunda-feira dia 17 de maio no Buxixo, na Tijuca, e contará com a presença de Ana Élle, Glaucia Chris, Bleffe, Turbilhão Carioca e Farofa Carioca. Não deixe de ir e levar sua contribuição!

Acompanhe as atividades do Rio Unido no twitter: @riounido e #riounido
Mais informações:http://riounido.wordpress.com/

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A perpetuação do estereótipo da favela



Ao longo dos últimos anos tornou-se perceptível a presença de conteúdos baseados em acontecimentos do dia a dia das periferias urbanas na construção das histórias ficcionais. O que se tornou evidente nos filmes da retomada do cinema brasileiro a partir de Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, agora é banalizado pela televisão, que cede o seu horário nobre para tratar do assunto.

Por Marcos Paulo de Araújo Barros, para o Observatório da Imprensa

Atualmente no ar na Rede Globo, a novela Viver a Vida, de Manoel Carlos, toca na ferida do problema de segurança pública do Rio de Janeiro, por meio da história dos personagens Benê e Sandrinha, que são moradores de uma favela comandada por traficantes de droga. Ele está envolvido com a criminalidade do lugar e ela é a irmã da protagonista rica, que poderia optar por um rumo melhor em sua vida, mas apaixona-se pelo bandido.

Esta não é a primeira vez que o novelista aborda a violência na cidade maravilhosa. Em 2003, uma bala perdida matou a personagem Fernanda em Mulheres Apaixonadas. Entretanto, o fato de a principal telenovela do país transformar a favela como um de seus temas promove o debate público sobre a imagem que os telespectadores fazem da periferia? Ou o enredo de Manoel Carlos apenas contribui para reforçar estereótipos?

Em 2007, a novela Duas Caras, última trama da emissora a abordar o tema favela, surpreendeu o público, pois seu autor, Aguinaldo Silva, construiu uma comunidade diferente da qual os espectadores estão habituados a imaginar como representação de uma comunidade periférica. Em Duas Caras, a favela "Portelinha" não sofria com problemas de violência e criminalidade. O objetivo do novelista era desmistificar a ideia de que na favela só residem bandidos, enfatizando o caráter humano e caracterizando a favela como espaço de pessoas honestas e trabalhadoras. Todavia, ao contrário de Aguinaldo Silva, o escritor de Viver a Vida parece que optou por representar o morro como um espaço dominado por quadrilhas de traficantes de droga e isolado do resto dos cenários de cartão postal, tão evidenciados na telenovela.

Realidade proposital

Com o tom naturalista característico do gênero, as cenas de Viver a Vida que se passam na favela tentam criar no imaginário do telespectador a impressão de realidade. Para tanto, o diretor da obra Jayme Monjardim utiliza a tecnologia para alterar as cenas que mostram o ambiente externo da comunidade, como as escadarias que dão acesso ao morro, e aquelas que se passam no interior do barraco onde vivem Benê e Sandrinha. Segundo Monjardim, em entrevista à Folha Online, estas imagens são diferentes quando comparadas com os demais cenários da novela e têm efeitos que se aproximam do cinema. Talvez exista nessa intenção o desejo de assemelhar as sequências mostradas no horário nobre da tevê às cenas de filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite (2007), que foram campeões de bilheteria nas salas de exibição, chamando a atenção do público admirador destes longas-metragens para a novela.

O software que resulta em tal efeito, denominado Base light, conforme o diretor - que também é utilizado para rejuvenescer atores e atrizes - dá a impressão de que de fato os personagens estão em uma favela real. Este clima de realidade propalado por Monjardim, entretanto, no lugar de induzir à reflexão acerca da diversidade e dos problemas de infraestrutura que maltratam os moradores de favela, acaba por representá-la de maneira estigmatizada.

Nesta direção, constata-se que os meios de comunicação, no caso em questão a televisão, funcionam como agentes significantes, produtores de sentido que não reproduzem a realidade, mas sim a definem. A violência exibida pela novela, com ares cinematográficos, pode resultar na glamourização da criminalidade. Na visão de Ivana Bentes (2001), representar a favela utilizando a linguagem do entretenimento, as imagens-clichê, folclóricas e publicitárias reafirmam o que é exposto na mídia todos os dias. Nesta perspectiva, a novela Viver a Vida acaba apenas por transpor a criminalidade das notícias dos jornais para o público de forma espetacularizada por meio de artifícios tecnológicos.

Deste modo, a obra evidencia um maniqueísmo determinista, sempre presente nos produtos midiáticos, que faz uma divisão entre personagens do bem e do mal, configurando numa redução da abordagem do tema favela, deixando de tratar de outros enquadramentos a respeito do tema. De acordo com Felipe Botelho Corrêa (2006), reduzir uma favela ao tráfico de drogas e à violência, mostrando os personagens com estereótipos animalescos, é estabelecer um jogo de alteridade com o espectador, em que ninguém se identifica com as atrocidades que acontecem na trama. "O que se tenta criar é um território de barbárie que não tem contato com o mundo externo: é uma idealização de um lugar onde só o terror tem vez (CORRÊA, 2006, p.54)".

Ao longo da trama, a questão do estereótipo é percebida em diversos trechos. A representação da favela, de Benê e de alguns de seus comparsas confirmam a imagem preconceituosa que a mídia faz do local e das pessoas que vivem na periferia. Para Aluizio Trinta (2008), os estereótipos marcam sua presença no âmbito das representações sociais, dando destaque para fatores afetivos e origens inconscientes no comportamento coletivo. Na visão dele, são considerados como representação rígida e redutora, na maioria das vezes compartilhados por um grupo humano, com referência a instituições, pessoas ou grupos. Nesta linha de pensamento, os estereótipos valem-se de imagens preestabelecidas para todos os indivíduos de uma classe social, que se fixam mediante à atribuição genérica de qualidades de caráter apreciativas ou depreciativas, resvalando ao preconceito.

Entende-se assim que por meio de estereótipos a realidade passa a ser vista de forma distorcida, em que indivíduos e coisas tendem a generalizações indevidas, abusivas ou prematuras. No caso de Viver a Vida, as imagens negativas ultrapassam o horário nobre e acabam fazendo parte do discurso de revistas e sites especializados em novelas. Tanto que no endereço eletrônico oficial da trama, por exemplo, o personagem de Benê, interpretado pelo ator Marcello Melo, é descrito como mau-caráter e está sempre envolvido com as pessoas erradas, além de guardar algumas passagens pela polícia. Ele gosta de Sandra, com quem tem um filho, mas seu objetivo é sempre levar vantagem.

Visão negativa

Quem acompanha a história de Manoel Carlos pode ter a tendência a construir mentalmente uma visão negativa, com padrões e formulações rígidos, a respeito da favela e de seus moradores. Já que o preconceito aparece arraigado também nas falas de outros personagens. Quando, por exemplo, Sandrinha e Benê decidem sair da favela de vez e vão morar na pensão da mãe de Ellen. Os dois se mudam assim que Benê deixa uma clínica clandestina, depois de se tratar de um ferimento de arma de fogo. O casal é recebido na vila, porém, Ellen não gosta da ideia e externa o medo de tê-los por perto. A personagem Yolanda, que vive no lugar, chega a comentar: "acho que vamos ter dias e noites muito divertidos por aqui". A médica Ariane, que também é moradora da pensão, resume o medo de todos: "isso se não aparecerem bandidos e polícia atrás dele (Benê)". Nesta passagem percebe-se que, mesmo numa tentativa de regeneração, Benê não consegue se livrar do estigma de ser morador de favela.

Ainda na mesma sequência, ao chegar no quarto onde irá permanecer com Sandrinha, Benê revista o local para saber se não há ninguém, desconfiando da boa vontade de todos. Sandrinha lhe dá uma bronca: "eles é que podiam estar preocupados em receber você. Ou já esqueceu que entrou uma vez no apartamento da Ellen, dando tiro?"Benê baixa a crista, Sandrinha amolece e insiste para que ele mude de vida: "pega o caminho certo, Benê, enquanto é tempo. Enquanto tá vivo!". Os dois selam a paz com um abraço. Mais uma vez a novela faz questão de lembrar quem é o ex-traficante, evidenciando o quanto será difícil para o personagem desligar-se do seu passado criminoso.

A concepção de que a favela é um local fadado à violência fica evidente em diversas cenas do folhetim eletrônico. Em uma delas, depois que o marido, Benê, foi agredido, Sandrinha perde tudo, inclusive o barraco, que foi todo quebrado pelos bandidos. Ao saber disso, Edite, mãe de Sandrinha, sai de Búzios e vai ao encontro da filha. Ela pede que a filha volte para casa e deixe o barraco, mas Sandrinha se recusa, já que quer ficar perto de Benê, que está sendo cuidado por um médico clandestino da comunidade. Em seu discurso, Edite não cansa de enfatizar o quanto é perigoso morar na favela. Sendo assim, a personagem de Manoel Carlos confirma no imaginário do telespectador a relação entre criminalidade e periferia. A carga negativa ganha força, inclusive, no nome de um dos personagens, o Coisa Ruim, que é morador da favela e comparsa de Benê.

Capacitação para leitura de textos culturais

Desta maneira, presume-se que a novela corrobora para que seu público crie sua imagem particular do território denominado favela. Uma vez que o espectador não tem acesso ao local de verdade, mas sim a sua representação constituída por meio da mediação televisiva. Este acesso por meio do discurso originado na mídia, muitas vezes calcado no artifício da espetacularização, pode formar uma falsa percepção da realidade e visão distorcida da favela e de seus moradores. A periferia vista através do horário nobre pode ser que se pareça mais com aquela enxergada sob o olhar da classe média. A identidade do favelado exibida na tela, por meio do personagem Benê, repleta de estereótipo, costuma ter consequências nas relações humanas na sociedade, uma vez que o indivíduo da periferia é apresentado com uma conotação violenta, gerando um símbolo renegado pela grande maioria do público. Para Corrêa (2006), apenas o fato de a favela ser chamada por outro nome que não o do bairro onde está inserida já é um deslocamento do resto da cidade.

Nesta direção, chega-se a conclusão de que a novela, ao atribuir ações de violência à periferia, tem a intenção de dar maior audiência para a emissora, gerando assim mais lucro no bolo publicitário, visto que a criminalidade espetacularizada funciona como atrativo para o público. Diante disso, torna-se necessário refletir a respeito da leitura que se faz dos textos culturais produzidos pelos produtos midiáticos. Como bem lembra Douglas Kellner (2001), numa cultura da imagem dos meios de comunicação de massa, são as representações que ajudam a constituir a visão de mundo do indivíduo, o seu senso de identidade e sexo, consumando estilos e modos de vida, bem como pensamentos e ações sociopolíticas. Kellner pontua que a ideologia é, pois, tanto um processo de representação, figuração, imagem e retórica quanto um processo de discursos e ideias.

Portanto, é necessário que as pessoas sejam capacitadas para discernir sobre as mensagens, valores e ideologias que constituem a cultura divulgada pelos meios de comunicação. Acredita-se que assim possa haver uma maior reflexão por parte do público consumidor de novelas, tentendo a sair da passividade. Espera-se, com isso, que o telespectador possa romper com as estruturas fixas e seja incentivado a pensar a diversidade e contribuir para que haja, realmente, benéficas transformações sociais.

Bibliografia

CORRÊA, Felipe Botelho. "As projeções de alteridade no espaço urbano carioca: a favela no cinema brasileiro contemporâneo". Lumina – Juiz de Fora – Facom/UFJF – Vol.9, n.1/2, p.51-61-jan/dez 2006.

KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2001.

LAHNI, Cláudia Regina; PINHEIRO, Marta de Araújo (org). Sociedade e comunicação: perspectivas contemporâneas. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.

SANTANA, Fernanda Castilho. "Favela como espaço de identidade: Representações na telenovela Duas Caras". Revista Internacional de Folkcomunicação. Vol. 1. 2009.

Folha Online – Ilustrada. 05/02/2010.

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